A ciência permite extrair dos balanços das empresas informações que são extremante ricas e úteis, mas que hoje são utilizadas principalmente pelos bancos

A imensa maioria dos empreendimentos mira o futuro, as inovações, as novas tendências do mercado, como se adaptar às demandas de consumo. No entanto, mesmo com vultosos investimentos em tecnologia, marketing, ferramentas de relacionamento com o consumidor, entre tantos outros, inúmeras empresas ainda não conseguem sequer sobreviver no mercado. E por quê? Porque a essência está sendo esquecida.

Durante muitos anos, o Fisco usou a Contabilidade apenas como base de tributação. Os ricos dados contidos nos balanços foram relegados para somente atender as fiscalizações. A Ciência Contábil, o início de tudo, não é utilizada na sua plena totalidade e muitas empresas perdem muito por isso.

O saudoso professor e membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis, Antônio Lopes de Sá, referência na área, já alertava para o mau uso da Contabilidade. “Ela (a Contabilidade) não é só escrituração, balanços e demonstrativos de lucro. Isto é apenas informação. Mas não adianta informar se não se sabe o que fazer com a informação”.

E é neste ponto que entra o verdadeiro papel do contador: observar, anotar, arrumar e evidenciar o que acontece, é interpretar tudo na empresa sob o viés contábil.

Se eles soubessem…

“A Ciência Contábil não é uma conversa que agrada o empresário brasileiro”, afirma com veemência o também professor, membro da ABCC e criador da Rede Nacional de Consultores Contábeis (Renaccon), César Abicalaffe. “No Brasil, apenas um lado da Ciência Contábil foi absorvido pelos profissionais em função do mercado”, continua.

O professor enfatiza que a Ciência Contábil permite extrair dos balanços das empresas informações que são extremante ricas e úteis, mas que hoje são utilizadas principalmente pelos bancos.

“Você sabia que dá para saber exatamente em quanto tempo sua empresa poderia eventualmente quebrar, sem nem mesmo conhecer sua empresa, fazer uma visita ou ainda olhar suas vendas?”, indaga Abicalaffe.  

Esta é a capacidade real da Contabilidade. “Basta se utilizar dos balanços de três anos seguidos e aplicar as fórmulas da Ciência Contábil, que são mais de três mil”, explica.

A ciência também consegue orientar o empresário a dar maior atenção para aumentar os lucros e a sustentabilidade. “Em um ranking de maiores e melhores Sociedades Anônimas do Paraná, que serve de amostragem para o Brasil, durante cinco anos, pode-se comprovar que 93% das empresas poderiam ganhar muito mais sabendo exatamente onde mexer se aplicassem a Ciência Contábil”, acrescenta César.

O tripé

Ronaldo Dias, contador e diretor da Brasil Price, engrossa o coro de que a Contabilidade é a chave para solidificar a empresa em qualquer mercado. “O contador precisa de informações para analisar com eficiência as melhores alternativas para a empresa, são dados cruciais para tomadas de decisão”.

É na Contabilidade que se registra, verifica, resume e interpreta os dados econômicos e financeiros sobre as atividades da empresa. É ela que compara resultados, apresenta tendências. “É a ciência para ter o controle da empresa”, reforça Dias.

César vai um pouco além e ressalta que, na prática, existe um tripé que sustenta o negócio, mas que pouquíssimos empresários conhecem ou levam a sério: Financeiro, Econômico e Patrimônio. “A empresa precisa ser eficiente nestes três segmentos. Aquele que só pensa no dinheiro, no lucro, é um verdadeiro aleijado. Quanto maior o lucro, maior o risco, mas esse risco é corrido sem suporte algum”.

As coisas estão mudando

A partir de 2017, muita coisa irá mudar na Contabilidade, segundo o professor. A convergência do sistema brasileiro para os padrões internacionais (International Financial Reporting Standards) tornará possível mostrar o valor e aplicabilidade verdadeira desta ciência.

“Empresas quebram e contadores são presos porque ignoram o valor da Contabilidade. E os governos já perceberam isso e estão usando a ciência contábil para executar as operações e investigações”, alerta o professor César.

Para as pequenas e médias empresas, a Contabilidade, no Brasil, serve apenas ao Fisco. “Mas está havendo uma transformação, pela complexidade dos mercados e necessidades dos novos tempos. O empresariado necessita utilizar mais informações para poder tomar decisões rápidas e assertivas. E a Contabilidade é um caminho imprescindível para isso”, taxa Abicalaffe.

Imagem: http://blog.fipecafi.org/